Saudação aos Oficiais-Generais recém-promovidos

Palavras do Chefe do Estado-Maior do Exército

Publicado em 30/11/2023 17h03 | Atualizada em 01/12/2023 17h09

Veja a lista de promovidos

Dentre as tradicionais missões conferidas ao Chefe do Estado-Maior do Exército encontra-se a de saudar os oficiais-generais promovidos, em nome da Instituição. 

Agradeço ao nosso Comandante, General de Exército TOMÁS MIGUEL MINÉ RIBEIRO PAIVA, o privilégio e a honra que me concede, em momento de júbilo para a Força Terrestre.

Com emoção me posto diante desta audiência, desejoso de que minhas palavras possam traduzir a magnitude do ato solene.

Perfilados diante de nós, como que sendo abençoados pela energia da nossa mais sincera admiração, encontram-se dois novos Generais de Exército, dez novos Generais de Divisão e dezoito novos Generais de Brigada.

Aos novos Generais de Exército que ascendem ao último posto da carreira: congratulações por mais esta conquista. Nos próximos quatro anos, integrando o Alto Comando do Exército, os senhores serão diuturnamente demandados no sentido de assessorar o Comandante do Exército nas decisões que moldarão o presente e o futuro da Força Terrestre.

Aos novos Generais de Divisão: o Brasil reconheceu a excelência do trabalho que desenvolveram durante os primeiros quatro anos como oficiais-generais. Continuem sendo exemplos de atributos castrenses, sabedores da complexidade dos novos desafios que se descortinarão.

Aos caros Generais de Brigada recém-promovidos: é principalmente aos senhores que pretendo transmitir esta mensagem. Dentre tantos pares de comprovado merecimento e de elevadas virtudes, o Exército os indicou e a Nação os escolheu e os investe Generais.

A espada que receberão em pouco servirá como farol para que sejam resilientes diante dos desafios e humildes diante dos sucessos. Sendo uma réplica da invencível espada de Caxias, traz nos arabescos estilizados o maior de todos os atributos de um chefe militar: a liderança pelo exemplo.

Em Itororó, a coragem de Caxias foi exemplo dessa postura ao arrebatar e conduzir soldados fatigados contra um inimigo entrincheirado nas íngremes margens daquele riacho.

Gritou o velho General diante da perda de impulsão: “sigam-me os que forem brasileiros”, e eles o seguiram.

Saibam que o Exército Brasileiro, desde Guararapes, transita entre um passado constituído por valores e tradições, e uma visão de futuro que inspira sua evolução.

Quando os senhores receberam suas espadas de oficiais na tradicional Academia Militar das Agulhas Negras, a utopia da paz global, nascida da simbólica queda do muro de Berlim, enchia de esperanças as mentes pouco observadoras. Até o fim da história foi decretado. 

Havia uma perspectiva crescente de um mundo pacífico, sem fronteiras, no qual a diplomacia e os organismos internacionais garantiriam a estabilidade e a cooperação entre os povos iria sobressair-se sobre o fio da espada.

Tudo isso se desfez como um passe de mágica, se desfez ao primeiro tiro, ao primeiro comando de calar baionetas.

Inicialmente, pela ameaça terrorista, narcotráfico, crimes transnacionais, disputas ambientais, depois pelas migrações incontroladas, pelo ressurgimento do nacionalismo exacerbado - para espanto de pacifistas ingênuos e, por fim, na velha disputa pela hegemonia global.

A liderança de cada um de vocês, construída nessas três décadas de carreira exemplar e que os acompanhará na futura marcha para o combate, será indispensável para fortalecer as tomadas de decisões, para a conquista da confiança de subordinados, para a manutenção da impulsão no enfrentamento desses e de outros desafios ainda não palpáveis.

Essa liderança ajudará a Força Terrestre a saltar do ponto em que agora nós nos encontramos para um futuro volátil, incerto, complexo e ambíguo, sem medo, sem hesitação, com serenidade, com firmeza e com confiança de que ergueremos o pavilhão da vitória após cada desafio enfrentado.

Nós, velhos chefes, estaremos atentos e prontos a compartilhar nossas experiências. Mas o sangue novo é o que corre em suas artérias e faz bater agora seus corações emocionados. É ele que oxigenará cada homem e mulher fardados sob seus comandos.

Despertem em seus subordinados o desejo de marcharem juntos, como a guarda de Napoleão. Inspirem seu círculo mais próximo ao assessoramento corajoso e leal, além da disciplina intelectual. Juntos, líder e liderados serão sempre mais fortes.

Sua coragem moral invocará as virtudes necessárias na hora das decisões e seu caráter reforçará a fidelidade aos valores herdados dos nossos antepassados.

Como soldados no mais alto posto da carreira, vocês também precisarão alertar a sociedade dos perigos da leniência na defesa da soberania nacional.

Cito Tucídides, em seu famoso Diálogo Meliano, quando os habitantes de Melos tentavam convencer os atenienses da justiça de suas causas e foram alertados duramente pelos emissários daquela cidade-estado: “pois deveis saber que o justo, nas discussões entre homens, só prevalece quando os interesses de ambos os lados são compatíveis, e que os fortes exercem o poder e os fracos se submetem.” Era assim o mundo àquela época, continua igual até hoje.

A sociedade brasileira não pode se iludir, as causas que pareçam justas, ao envolver nações em disputas, exigem diplomacia suportada por canhões.

Vocês estão prontos e o Exército está confiante em suas escolhas.

Antes de finalizar, uma justa e merecida homenagem se faz imperativa.

Por favor, generais, voltem seus pensamentos para seus entes queridos que hoje compartilham de suas vitórias e pensem também naqueles que ficaram no meio do caminho sem vê-los fisicamente nesta conquista.

O Exército confere o seu mais profundo reconhecimento e gratidão às suas dedicadas famílias.

Ele sabe que o caminho da servidão e grandeza dos militares é desafiador, exige sacrifícios pessoais e demonstrações de compreensão sem razão, por parte de membros do seu clã consanguíneo.

Permitam-me neste momento uma metáfora cavalariana ao aproximar-se a linha de chegada desse discurso.

Generais montem o baio que os espera ao assumirem seus novos postos. Mandem o clarim tocar carga. Seus lanceiros confiantes o acompanharão
em qualquer jornada, a qualquer tempo, contra qualquer inimigo de nosso povo, de quem somos legal e conscientemente servos.

Servidão que foi, é e será sempre a postura dos soldados de Caxias, valendo-se da hierarquia como referência e da disciplina como motivação para mantermos o Brasil, com sua população, riquezas e interesses, acima de tudo.

Obrigado, Soldados!

Sejam felizes.

Muito obrigado.

General de Exército FERNANDO JOSÉ SANT’ANA SOARES E SILVA
Chefe do Estado-Maior do Exército

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Fonte: Estado-Maior do Exército

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